domingo, 28 de novembro de 2010

Arqueologia Histórica na Mata Atlântica - O Fortim Português que se tornou engenho

Algum tempo atrás, eu e um colega de empresa encontramos uma estrutura muito antiga no meio da Mata Atlântica no litoral paulista.

Apesar de ser muito parecida com um fortim português do século XVI, ficamos sabendo através dos pesquisadores de Santos, de que se tratava de um engenho muito antigo.

Acontece que estávamos fazendo uma pesquisa numa área inédita, ilhada no interior de grandes margens de mangues e gamboas e, nesse espaço, ninguém havia percorrido desde a época da colônia. 

Veja o vídeo que gravamos no local: 


Depois que publicamos a descoberta nas mídias sociais, duas ou três entidades históricas da região disseram que já tinham o conhecimento da estrutura histórica.

Mas na verdade, não tinham noção da existência do significativo patrimônio histórico na região.

Tratava-se de um Forte Militar Luso-Brasileiro do início da colônia, construído entre 1532 a 1580, posteriormente tornou-se o engenho de um rico fidalgo português, entre os séculos XVII e XVIII, tendo sido completamente abandonado no início deste último século.


Fica o registro, foi muito bacana ter estado no local, no chão observamos faiança portuguesa antinha estilo aranhões e wave, bastante característico do período.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Costumes e Desafetos: diarréia do antiquário



barakatgallery:   Polychromed Stone Fu Dog... | Andrew Ledford Views
É, de fato, eles não o tem. Basta ser arqueólogo para saber o valor de escavar ao sol. Sentir a pele ardendo; caminhar horas para, muitas vezes, nada encontrar. Somos em geral pouco sentimentais. Mas o que é nosso, é nosso! Veja nós: você e eu. Não nos conhecemos... sei que temos pessoas em comum. Individualmente temos nossos desafetos, pessoas das quais discordamos, brigas bobas, etc.



Rebuscado de mais. As vezes coerente, as vezes não. Portamos um conhecimento lascado, fragmentado, pré-histórico. Gritamos bem alto, julgando com fúria os antiquários, colecionadores e toda a raça de comerciantes de antigüidades. Amargo. Incompreensível. Fazer Arqueologia é algo sublime. Justamente pelos seus costumes e desafetos. Somos arqueólogos porque sentimos. Brigamos. Lutamos pelos nossos ideais.

Quer saber como? Um simples estado de espírito. Vontade de seguir em frente e buscar respostas arrojadas. Estudamos para divulgar a nossa ciência, minha e sua. Somos éticos para inspirar novos cientistas. Não nos deixamos abater. Denuncie quem vende artefatos. Vá à polícia, não permita que isso aconteça. Comece uma guerra de proporções épicas contra os antiquários.


scrapironflotilla:   Rather improvised... | Andrew Ledford Views
Exercer a cidadania é tomar uma atitude. Seja empreendedor. Lute pelos seus valores. É o único jeito de mudar a sociedade. Para isso você tem que tomar uma atitude. Ser claro e preciso. Mesmo assim os seus costumes e desafetos vão permanecer. Lembre-se são eles que o fazem arqueólogo. E são estes os princípios que o diferem de um colecionador, antiquário ou traficante de artefatos arqueológicos.



Falta sentimento. Falta ideologia. Podemos criar, inovar e inspirar...
Enquanto isso o antiquário está cagando e andando.

sábado, 6 de novembro de 2010

Arqueologia do Joelhaço


Estava tomado de uma paranóia incontrolável. Gostaria de fazer a Arqueologia dos sonhos, perfeita. Inspirado em fatos reais, o moço foi procurar ajuda profissional. Tudo estava mais, muito mais veloz. Os prazos, o trabalho de campo, escrever o relatório... Tudo deveria ser feito em velocidade "the flash". Toneladas de informações se concentravam em sua mente, e na pia do banheiro. Funcionalista ao extremo, nada deixava passar aos olhos do jovem profissional. Vivia num mundo onde dinheiro parecia ser sangue, vital para a vida, precisava correr.

Descontrolado encontrou ajuda na informação. Essa Arqueologia barata de internet. Rápida e de fácil acesso. Percebeu que milhares de vídeos e websites tratavam exatamente disso: velocidade, ansiedade, angústia. Recordava os tempos de academia, lembrava de como tudo era mais simples, organizado e com finalidades bem definidas. Mas hoje não, não é mais assim. A esculhambação tomou conta de atividades rotineiras como uma simples coleta superficial sistemática.

The skeletons of Herculaneum. | Andrew's Social Media

Completamente emputecido com os novos rumos paradigmáticos, via apenas uma saída: a terapia. Na profunda análise de consciência gaúcha, aquela de raíz, do churrasco e do chimarrão. Imagine. Visualize a paisagem pampeana, com aquela serração típica de manhã fria de domingo, sol nascente... e o couro comendo na enxada. Através dos manuscritos dos sábios (em .pdf) encontrou a dádiva que tanto o seu espírito procurava. Praticando a Arqueologia do Joelhaço. Quanto mais forte for a pancada, melhor o resultado; quanto maior o empenho físico e mental, gotas de sucesso.

Conseguiam atender a milhares de contratos em apenas alguns minutos. Estava sedento por entrar nesse ritmo. Mas vender a alma não era uma opção, precisava apenas se adaptar. Enfim, não havia sentido em acompanhar o mercado nervoso, mas sim manipular as ações liberais de venda do conhecimento. Neste caso criou diretrizes, fundou códigos sólidos de Ética e trabalho. Se transformou no grande guru competitivo em patrimônio cultural.

Decorated human skulls dated to 9,500 years ago found at the Neolithic site of Tell Aswad | Andrew's Social Media

Lhe irritava profundamente o escopo psicótico da Arqueologia imediatista. Tomava pílulas de compromisso. Anti-depressivos fortes contra a profunda tristeza técnica que estavam ensinando; quem diria, escolas técnicas de Arqueologia. Bem, já era hora, estávamos precisando. Só Deus sabe se irão continuar com essa mania obsessiva de criticar sem fundamento os pioneiros. Maledicência filha da puta essa, hein!